F. Pessoa

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este mar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ter.

Fernando Pessoa

Primavera

Neste dia tão cinzento, em que a esperança parece ter desaparecido, anunciam no noticiário da manhã, Sol e calor para o fim de semana.
A nossa vida é assim: Tristeza e esperança, sacrifício e confiança, um dia após o outro.
O que não nos mata, fortalece-nos, dizem.
Espero bem sair fortalecida de tantos sacrifícios, porque as forças já são poucas e o futuro (segundo a ordem natural da vida) muito curto!

Morrer e renascer

Nas pequenas povoações do interior a vida parece ter desaparecido das ruas.
As lojas fecham e as poucas que resistem aos tempos de crise estão vazias de produtos e de clientes.
Os cafés encerram cedo e até as ruas, com iluminação reduzida, mostram a tristeza de um país sem esperança.
Só a terra teima em se mostrar como todas as primaveras.
Os campos floridos, as vinhas cheias de novos rebentos, as árvores de fruto todas em flor, prometendo
os frutos do Verão, os jardins das pequenas casas com as sardinheiras de várias cores, os malmequeres amarelos, brancos e rosados, os jarros com a sua corola alva e os lírios roxos nos murros de terra na beira das estradas, os narcisos amarelos que nem canários, as magnólias majestosas, as camélias rubras e rosas e as trepadeiras liláses, recusam-se a deixar de renascer por falta de saldo.