Sophia

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in "RELÂMPAGO" Nº 9 (Out. de 2001), in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010)

Quem me roubou o tempo que era um
quem me roubou o tempo que era meu
o tempo todo inteiro que sorria
onde o meu Eu foi mais limpo e verdadeiro
e onde por si mesmo o poema se escrevia

Saudades

Cheguei à conclusão de que não é só do Natal que eu vivi com os meus pais e com os meus irmãos e das coisas que tínhamos nessa altura, que eu tenho saudades, mas da pessoa que eu era então.

Mais um Natal!

Saudades imensas da noite de Natal na quinta dos meus pais (a nossa casa). Mesmo que quisesse seguir o que eles faziam, as muitas ausências fazem com que a imensa saudade ocupe todo o espaço destinado à alegria.
O cheiro das filhoses a fritar, do açúcar queimado no leite creme, a lareira acesa, o presépio, os meus irmãos e primos, eram motivos suficientes para a magia acontecer.
A verdade é que os meus pais também sofriam com a ausência de entes queridos e mesmo assim, a sua preocupação é que nós vivêssemos aquela noite de forma inesquecível. Agora, talvez me caiba a mim ter imaginação e força de vontade suficientes para fazer a magia acontecer de maneira a ficar para sempre na memória dos meus netos. Este ano quero compensá-los da falta de força que tive o ano passado, não só por eles, mas pela memória dos meus pais.

Somos o povo

Dizem constantemente que temos de baixar "não sabemos o quê" para pagarmos "não sabemos a quem" uma dívida que não sabemos quem a fez, já que sempre vivemos com tão pouco e só do nosso trabalho. Apenas sabemos que temos de trabalhar muito e continuar a ter pouco.A grande maioria do povo português não entende nada de finança, ninguém nos explica e tb nada nos perguntam. Não imaginamos tantos milhões de que eles falam, não sonhamos com as negociatas que enriquecem alguns de um dia para o outro e vemo-nos a ter que pagar o que eles dizem que devemos... É a sina de quem mal sabe ler, de quem não quer saber de eleições e de quem acha que quem tem algum dinheiro é honesto e sábio, por isso merece o nosso respeito.