Doces de fruta

No Fundão faz-se doce de qualquer fruta.
Faz-se compota de melão, de pêssego, de abóbora com nozes, de cereja, de ginja, de morango.
É óptimo beber um chá, numa tarde fria de Inverno, acompanhado com uma fatia de pão caseiro barrado com um pouco de doce de tomate.
É uma forma de se ter sempre uma sobremesa ou um carinho para pôr na mesa, quando chegam visitas de repente, em terra de gente simples e com poucos recursos económicos.
E todos sabem que as crianças e os idosos adoram geleia de marmelo, marmelada e doce de alperce, razão pela qual os vizinhos e amigos da creche e do lar de idosos de qualquer aldeia da Beira Baixa, divide com eles essas guloseimas, transformando os lanches mais saborosos e menos solitários.
Por isso me indignou tanto a atitude dos fiscais da ASAE.
Deitar para o lixo frascos de doces caseiros, que os habitantes da Soalheira ofereceram para o seu jardim-de-infância, só pelo facto de serem caseiros... não lembra ao demónio!
Talvez porque estavam em frascos reciclados do Tofina ou tigelas de louça, tapadas com papel vegetal cortado à medida.
De certeza nunca sentiram o magnífico aroma dessas compotas quando tomam ponto ao lume, nem provaram o seu sabor em nada comparado com as que se compram no supermercado.
Pois vão admirar-se, meus senhores, com a simplicidade em confeccionar essa conserva, que dura dois e três anos, no armário da sala, sem alteração das suas qualidades e permanecendo uma delícia.
Dou-vos a receita do doce de ginja, tão apreciado naquela terra, para comprovarem a quantidade de ingredientes necessários para conseguir tal milagre.
Receita
Ginjas (ou cerejas à falta daquelas, que cada vez estão mais raras no mercado) a que se retiraram os pés e os caroços, depois de lavadas.
Pesam-se as ginjas e igual quantidade de açúcar.
Numa panela coloca-se o açúcar com meio copo de água. Deixa-se ficar em ponto de pérola e juntam-se então as ginjas. Deixa-se apurar até estar a gosto (mais líquido, ou mais seco).
Come-se no pão, com requeijão, ou à colherada.
Não precisa conservantes, corantes, frigorífico ou congelador... Só paciência para vigiar o ponto.
Provem e vejam porque me indignei e me continuo a indignar sempre que penso no vosso gesto.
Muitos adultos só tiveram essa compota, quando crianças, para acompanhar um naco de pão na hora da merenda, na escola. Nunca provaram fiambre, mortadela ou queijo flamengo!
E a Beira Baixa já deu ao nosso país muitos homens inteligentes e bons. Quem não conhece Eugénio de Andrade, famoso poeta nascido na Póvoa da Atalaia, aldeia mesmo ali ao lado da Soalheira?
No Fundão vendem uns pequenos frascos destas compotas, com um rótulo bonitinho e o selo de garantia, pelo preço de 2,5 Euros... Mas é um luxo!

E a vergonha?

Ouvi dizer que pagar o "aluguer" dos contadores da água era ilegal... iriam retirar essa taxa das facturas.
Fiquei contente, embora esse pagamento seja um riacho, junto dos mares imensos dos pagamentos que me inundam a casa todos os meses.
Agora, ouvi um senhor todo bem posto, dizer na TV que o pagamento tinha de continuar a ser feito e como tal, deixara de se chamar aluguer do contador e passaria a chamar-se "taxa de utilização"...
Eu sou inculta e desatenta, mas pensava que as leis eram para se cumprir e quando alguém se preparava para não cumprir alguma, fazia-o o mais discretamente possível. Acreditava que eram para respeitar e a desrespeitar, seria às escondidas e pelos "sem-vergonha"!
Achava que as pessoas tinham medo das consequências... Mas nem medo, nem vergonha.
Ou há outra explicação que não consigo entender?

Partiu

Morreu Zélia Gattai.
A mulher de Jorge Amado, a companheira que passava à máquina as obras do marido, a escritora... morreu depois de um mês hospitalizada com doença grave.
Foram 91 anos de vida cheia.
Ser mulher de um escritor de sucesso, conseguir encontrar o seu próprio caminho e ser reconhecida como escritora, não deve ter sido tarefa fácil.
Parabéns Zélia Gattai.

9 meses

O Tomás está muito crescido.
Tem dois dentinhos que já fazem estragos nas bolachas Maria.
Rebola pela sala a velocidade cruzeiro, já que andar de gatas ainda dá muito trabalho e só resulta para trás, desaparecendo volta e meia, debaixo dos sofás.
Gosta muito de comer e mesmo que o sabor não seja agradável, arrepia-se, faz caretas, mas abre sempre a boca.
Ri em gargalhadas dobradas que fazem as delícias de toda a família. Nunca chora.
Adora o Miau, gato preto, de olhos verdes, a quem puxa o pêlo sem dó nem piedade, mas de quem recebe sempre um olhar pachola.
Tudo serve para brincar e para meter na boca, principalmente as etiquetas das roupas, os porta-chaves, os comandos da TV e os telemóveis.
Todos estamos encantados com o novo elemento da família e ele também parece estar feliz com a família que lhe calhou, a avaliar pelo seu sorriso constante.
É lindo... o meu neto.